Imagine começar a enxergar tudo borrado, distorcido, duplicado e ainda com sensibilidade à luz e coceira nos olhos. Estranho, não é? Mas esses são alguns sinais do ceratocone, uma doença que deforma a córnea, fazendo com que ela afine tomando a forma de um cone. Os sintomas podem até ser parecidos com astigmatismo em alguns casos, o que acaba confundindo muita gente, mas os tratamentos são diferentes. “Enquanto o astigmatismo é uma imperfeição comum na curvatura do olho, leve e facilmente tratável, o ceratocone tem caráter progressivo. É bilateral (atinge os dois olhos), porém de apresentação assimétrica, ou seja, um olho pior do que o outro, podendo, em muitos casos, só haver sintomas em um”, explica o Dr. Guilherme Rocha, médico oftalmologista. De acordo com o especialista, a doença pode aparecer em qualquer momento da vida. No entanto, quanto mais jovem é o paciente no momento do diagnóstico, mais agressiva tende a ser a progressão. Os principais fatores de risco são registro familiar positivo, principalmente em casos de parentes de primeiro grau, e história de alergia ocular associada ao constante hábito de coçar os olhos.
Vale lembrar que o ceratocone não tem cura e pode inviabilizar a visão se progredir. No entanto, com acompanhamento médico adequado, raramente leva à perda de visão. “Os tratamentos disponíveis visam dois objetivos principais: reabilitação visual e controle da progressão. É importante mencionar que nenhum tratamento exclui o outro e que ambos os objetivos devem ser alcançados”, orienta o oftalmologista. Segundo ele, os meios mais comuns e utilizados para a reabilitação visual são: prescrição de óculos; adaptação de lentes de contato; implante de anel intraestromal corneano (Anel de Ferrara) e transplante de córnea. Já o tratamento para impedir a progressão é o crosslinking, alteração molecular nas fibrilas de colágeno da córnea, que induzem o fortalecimento de sua arquitetura, evitando o progresso da doença. “O crosslinking não deve ser realizado de maneira preventiva sem que haja comprovação de doença em progressão, visto que se trata de procedimento cirúrgico e nenhuma cirurgia é isenta de riscos”, avalia o médico.
Ainda sobre o tratamento, Dr. Rocha alerta também para a importância de desmistificar a ideia de que o transplante de córnea é a cura do ceratocone. “O transplante de córnea é um procedimento invasivo, que deve ser realizado nos pacientes em que todas as outras formas de tratamento foram esgotadas e o resultado da reabilitação visual é insuficiente para prover qualidade de vida ao paciente. Mesmo assim, fazer um transplante não significa enxergar perfeitamente no dia seguinte. Às vezes, isso não ocorre mesmo dois anos após a cirurgia. A imensa maioria dos transplantados vai continuar a usar óculos ou lentes de contato após a cirurgia, isto quando não é necessária a realização de intervenções complementares para melhorar o resultado, inicialmente alcançado com o transplante de córnea”, orienta o médico.
Por: José Mulser
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