Pesquisas apontam crescimento no Brasil de doenças crônicas que afetam a visão e podem ter prognóstico através de um único exame. Entenda
O Brasil tem hoje 16 milhões de diabéticos e ocupa a quarta posição no ranking internacional, só ficando atrás da China, Índia e Estados Unidos de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pior: a hipertensão atinge 36 milhões de brasileiros na idade adulta, só metade sabe que tem a doença e desses um em cada dois não faz o tratamento, ou seja, 75% dos hipertensos ficam sem tratamento no país, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).
Como se não bastasse a última pesquisa do Ministério da Saúde sobre doenças crônicas (2017) mostra que quase dois em cada dez brasileiros, 18,9%, estão obesos, e 54% acima do peso. O levantamento também mostra que de 2007 a 2017 a obesidade entre os mais jovens teve um crescimento de 110%, contra um aumento de 45% na faixa etária de 45 a 54 anos e 26% nos que tem 55 anos ou mais.
De acordo com o oftalmologista Dr. Leôncio Queiroz Neto, esta pesquisa indica que está crescendo, inclusive entre os mais jovens, o risco de contrair doenças crônicas como hipertensão arterial e diabetes que somadas ao excesso de peso aumentam a chance de contrair respectivamente retinopatia hipertensiva e retinopatia diabética, doenças que podem levar à perda da visão. “No início a retinopatia hipertensiva não tem sintomas. Os primeiros sinais são visão turva e diminuição do campo visual, mas só aparecem quando já avançou bastante”, afirma. Já a retinopatia diabética, ressalta, leva à diminuição da visão e à formação de manchas quando atinge parte da mácula. “Conforme evolui forma novos vasos na retina que por serem mais frágeis podem romper e causar hemorragia no fundo do olho levando à perda definitiva da visão”, alerta.
Prognóstico
A boa notícia, afirma, é que a retina, membrana responsável pela captação de imagens que fica no fundo do olho, sofre alterações no fluxo sanguíneo de seus vasos muito antes de surgir alguma sequela visual decorrente do sobrepeso, hipertensão ou diabetes. Por isso, a angiografia por Tomografia de Coerência Óptica (OCT), um exame nada invasivo e sem efeitos colaterais por dispensar a aplicação de contraste e colírio dilatador, pode antecipar o diagnóstico das alterações sistêmicas e visuais. Isso porque, permite avaliar com precisão as alterações no fluxo sanguíneo, bem como os detalhes anatômicos da retina e do nervo óptico que sofrem os efeitos da circulação deficiente.
Doenças neurodegenerativas
O especialista destaca que as doenças neurodegenerativas também provocam alterações na retina anos antes de surgirem os primeiros sinais clínicos, conforme ficou comprovado por duas recentes pesquisas internacionais. Uma delas foi publicada na JAMA Ophthalmology. Queiroz Neto conta que os participantes foram diagnosticados com Alzheimer pré-clínico através de exames mais invasivos. Nestas avaliações, os pesquisadores encontraram alto nível das proteínas amiloide ou característicos da doença. ”A angiografia por OCT mostrou afinamento do centro da retina decorrente do acúmulo destas proteínas. O exame também encontrou uma área maior sem vasos no centro da retina, sugerindo menor fluxo de sangue nos olhos de quem tem diagnóstico pré-clínico de Alzheimer”, pondera.
A outra pesquisa publicada na revista Neurology mostra uma associação entre o afinamento das duas camadas internas da retina e a perda de células cerebrais que produzem dopamina, hormônio que têm declínio entre portadores de Mal de Parkinson. Quanto mais avançado é o Mal de Parkinson, maior a perda das células cerebrais e, portanto, mais fina se torna a retina que corre maior risco de rompimento.
Para Queiroz Neto, o retrato das doenças crônicas no país que atinge uma parcela cada vez mais jovem de brasileiros e o resultado das pesquisas com portadores de doenças neurodegenerativas mostra que independente da idade, o exame de fundo de olho é recomendado para uma parcela cada vez maior da população. Para manter a boa visão recomenda fazer um exame oftalmológico a cada dois anos para quem tem menos de 40 anos e anualmente para que passou dos 40 anos. “O maior desafio da saúde pública é a prevenção para diminuir os custos sociais”, conclui.
Por: José Mulser
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